SOL - 14 Out 06
Politica a sério
- Uma cultura da morte
J. A. Saraiva
A atracção pela morte é um dos sinais da decadência.
Portugal deveria estar, neste momento., a discutir o
quê?
Seguramente, o modo de combater o envelhecimento da
população.
Uns país velho é um pais mais doente.
Um país mais pessimista.
Um país menos alegre.
Um país menos produtivo.
Um país menos viável – porque aquilo que paga as
pensões dos idosos são os impostos dos que
trabalham.
Era esta, portanto, uma das questões que Portugal
deveria estar a debater.
E a tentar resolver.
Como?
Obviamente, promovendo os nascimentos.
Facilitando a vida às mães solteiras e às mães
separadas.
Incentivando as empresas a apoiar as empregadas com
filhos, concedendo facilidades e criando
infantários.
Estabelecendo condições especiais para as famílias
numerosas.
Difundindo a ideia de que o país precisa de crianças
– e que as crianças são uma fonte de alegria,
energia e optimismo.
Um sinal de saúde.
Em lugar disto, porém, discute-se o aborto.
Discutem-se os casamentos de homossexuais (por
natureza estéreis).
Debate-se a eutanásia.
Promove-se uma cultura da morte.
Dir-se-ia, no aborto, que está apenas em causa a
rejeição dos julgamentos e das condenações de
mulheres pela prática de aborto – e a possibilidade
de as que querem abortar o poderem fazer em boas
condições, em clínicas do Estado.
Só por hipocrisia se pode colocar a questão assim.
Todos já perceberam que o que está em causa é uma
campanha
O que está em curso é uma desculpabilização do
aborto, para não dizer uma promoção do aborto.
Tal como há uma parada do “orgulho gay”, os
militantes pró aborto defendem o orgulho em abortar.
Que já não viu mulheres triunfalmente de
t-shirt
com uma frase “Eu
abortei”.
Ora, dêem-se as voltas que se derem, toda a gente
concorda numa coisa: o aborto, mesmo praticado em
clínicas de luxo, é uma coisa má.
Que deixa traumas para toda a vida.
E que, sendo assim, deve ser evitado a todo o custo.
A posição do Estado não pode ser, pois, a de
desculpabilizar e facilitar o aborto – tem de ser a
aposta.
Não pode ser a de transmitir a ideia de que um
aborto é uma coisa sem importância, que se pode
fazer quase sem pensar – tem de ser a oposta.
O estado não deve passar à sociedade a ideia de que
se pode abortar à vontade, porque é mais fácil, mais
cómodo e deixou de ser crime.
Levada pela ilusão de que a vulgarização do aborto é
um futuro, e que a sua defesa corresponde a uma
posição de esquerda, muita gente encara o tema com
ligeireza e deixa-se ir na corrente.
Mas eu pergunto: será que a esquerda quer ficar
associada a uma cultura de morte?
Será que a esquerda, ao defender o aborto, a adopção
por homossexuais, a liberalização das drogas, a
eutanásia, quer ficar ligada ao lado obscuro da
vida?
No ponto em que o mundo ocidental e o país se
encontram, com a população a envelhecer de ano para
ano e o pessimismo a ganhar terreno, não seria mais
normal que a esquerda se batesse pela vida, pelo
apoio aos nascimentos e às mulheres sozinhas com
filhos, pelo rejuvenescimento da sociedade, pelo
optimismo, pela crença no futuro?
Não seria mais normal que a esquerda, em lugar de
ajudar as mulheres e os casais que querem abortar,
incentivasse aqueles que têm a coragem de decidir
ter filhos.