O Governo quer mudar a definição de casamento. Os
políticos que escolhemos para tratar dos problemas
graves que nos afligem, e são tantos, não só não os
resolvem, como se divertem a manipular elementos
fundamentais da vida, como o casamento. Foi sorte
não pretenderem também alterar o conceito de almoço,
modificar os contornos do país, rever a semana ou o
clima. Talvez em breve tenhamos um decreto a proibir
as sobremesas, uma portaria que venda o Minho ou um
despacho para eliminar os sábados ou a chuva.
Existem na história alguns dirigentes, especialmente
delirantes como Calígula, Nero, Robespierre ou Idi
Amin, que fizeram coisas dessas. Mas nem esses se
atreveram a mudar o casamento, uma coisa tão básica
como a comida ou o tempo, algo que permanece antes
mesmo de haver Portugal ou existir o calendário.
Se fizermos um esforço talvez conseguíssemos
imaginar um regime sério, especialmente pedante, que
viesse a decidir tal coisa. Mas certamente só o
faria através de um longo processo, solene e
cuidado, de consulta e reflexão. Mas aqui nem isso
vai suceder. Mostrando bem a falta de respeito pela
democracia e a ligeireza quanto ao acto, os nossos
responsáveis preparam-se para mudar a definição de
casamento por simples lei ordinária. A reforma mais
influente dos últimos séculos vai ser despachada
rapidamente, sem consultas ou estudos, num pequeno
intervalo do debate parlamentar ao sabor das
estratégias ocasionais.
O Governo português vai mudar a definição de
casamento. A única reacção razoável é uma sonora
gargalhada.