Público - 10 Nov 08

 

Crise moral, falência política

A recente crise financeira veio provar à saciedade que estamos muito longe de viver na tão apregoada "Democracia". Alguns regimes do planeta serão até, inqualificáveis mas, no chamado mundo ocidental, aquilo em que vivemos é muito mais uma Plutocracia, o regime dos muito ricos.

Se fossem ricos de trabalho sério e produtivo, talvez não viesse grande mal à terra, mas, infelizmente, o que tem vingado é a especulação desenfreada, o ilícito, a fuga ao fisco, a lavagem de dinheiro sujo, as tentativas de monopólio, etc.Crise moral, falência política

A recente crise financeira veio provar à saciedade que estamos muito longe de viver na tão apregoada "Democracia". Alguns regimes do planeta serão até, inqualificáveis mas, no chamado mundo ocidental, aquilo em que vivemos é muito mais uma Plutocracia, o regime dos muito ricos.

Se fossem ricos de trabalho sério e produtivo, talvez não viesse grande mal à terra, mas, infelizmente, o que tem vingado é a especulação desenfreada, o ilícito, a fuga ao fisco, a lavagem de dinheiro sujo, as tentativas de monopólio, etc.

Escusado será dizer que as preocupações sociais não entram nesta equação. E cada vez mais a fatia maior do mercado é dominada por cada vez menos, reunidos em organizações poderosas e muito discretas, que ninguém elege nem escrutina.

Estamos perante uma crise moral e de princípios profundíssima que é, ao mesmo tempo, causa e efeito do descalabro político.

A coisa funciona em termos simples: os "ricos" financiam e controlam as campanhas eleitorais elegendo quem lhes interessa. Estes, uma vez no Poder, têm obviamente que favorecer quem lhes fez os favores. Com o tempo alguns trocam até, de lugares.

Perante os vários escândalos financeiros, o que fazem os governos? Pegam no dinheiro dos contribuintes e transferem-no para os cofres de muitos daqueles que pela sua cupidez e ganância são responsáveis pelo desastre em que estamos.

A falta de vergonha só tem paralelo na impunidade em que tudo se passa, como é bem ilustrado pela comezaina realizada algures na Côte d'Azur pela administração de um dos maiores bancos belgas, falido, que terá custado a módica quantia de 300 mil euros!

Argumenta-se que não restaria aos Governos outra hipótese a fim de não provocar o descalabro do sistema financeiro internacional. Pode ser, mas tal só será aceitável se se responsabilizarem os agentes económicos e financeiros que se portaram mal, bem como os organismos que falharam na prevenção das práticas lesivas da boa gestão e dos bons costumes, e se se produzir legislação que regulamente eficazmente a actividade financeira.

Se tal não acontecer, acarretará o total descrédito da classe política que, aliás, mesmo afirmando-se da mais fina linhagem democrática, já pouco crédito tem.

João J. Brandão Ferreira
Tenente-coronel piloto aviador (ref)
Lisboa