Público - 17 Mar 06

 

violência escolar

Sindicatos dizem que número de professores agredidos nas escolas está a aumentar

Bárbara Wong

Ministério da Educação ainda não tem dados deste ano, mas numa "avaliação qualitativa" garante que há menos problemas

O caso da professora de Informática da secundária Herculano de Carvalho, em Lisboa, que esta semana foi agredida não é uma história isolada. Por todo o país, dizem os sindicatos de professores, há queixas de docentes que foram agredidos ou ameaçados por alunos ou pais. E são cada vez mais. No caso da Herculano de Carvalho o agressor era exterior à escola, mas foi dentro do recinto escolar que esbofeteou a docente.
"Nos últimos tempos têm vindo a agravar-se as situações de agressões", denuncia Adriano Teixeira de Sousa, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof).
A Federação Nacional do Ensino e Investigação (Fenei) diz que, desde o início do ano, tomou conhecimento de "mais de uma dezena" de situações de professores agredidos. "Em Viana do Castelo, Porto, Santarém, Lisboa... A maioria das agressões são abafadas pelos próprios, que se sentem constrangidos a tornar públicos os seus casos", denuncia Carlos Chagas, secretário-geral da Fenei. A violência "está a aumentar e temos vindo a alertar para a gravidade desta situação".
Também a Federação Nacional dos Sindicatos de Educação (Fne) tem conhecimento de casos de agressões, mas não confirma números "porque os professores pedem sigilo, com medo de represálias", informa o assessor de imprensa, Nuno Santos.
A violência escolar - não só agressões físicas, mas também verbais - tem vindo a aumentar e a tutela não tem um gabinete de apoio para os seus trabalhadores, denuncia também José Fontan, da Fenprof. "Não há juristas nem psicólogos que acompanhem os professores que vivem essas situações", lamenta.
O Ministério da Educação não tem ainda dados do número de agressões físicas a professores registadas no primeiro período deste ano lectivo, mas a "avaliação qualitativa que o gabinete de segurança faz é que o número de incidentes diminuiu", refere Ramos André, adjunto do gabinete da ministra da Educação. "Dificilmente os sindicatos poderão dizer que a situação piorou", reforça.
No entanto, é isso que a Fenprof e a Fenei dizem: os casos pioraram. E uma das razões será a existência, pela primeira vez, de aulas de substituição, apontam.

Ministra telefonou
O raciocínio é este: quando um professor falta, é substituído por um colega que pode não conhecer a turma - "os conflitos do pátio transferem-se para dentro da sala de aula", explica Adriano Teixeira de Sousa. Ou seja, há uma rejeição por parte dos alunos daquele professor e um acréscimo de problemas de indisciplina, acrescenta o dirigente sindical. Esta versão é corroborada por Carlos Chagas, da Fenei, que propõe que estas aulas sejam substituídas por projectos educativos onde os alunos participem.
No caso da Herculano de Carvalho, a professora sofreu uma agressão física depois de interpelar três jovens que faziam barulho junto à porta da sala onde dava aulas. Os rapazes não eram alunos da escola dos Olivais. Há mais de dez anos que o estabelecimento de ensino tem vindo a queixar-se à Direcção Regional de Educação de Lisboa (DREL) dos problemas de segurança. Tem 21 anos e está degradado, há uma vedação que permite a entrada de estranhos.
Há dois anos receberam a visita do ex-ministro da Educação David Justino, que prometeu obras. Ontem foi a vez de a actual ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, telefonar e dizer que vai "diligenciar junto da DREL para que a vedação seja substiuída, assim como a instalação eléctrica", conta António Guedes Ferreira, presidente do conselho executivo.
Apesar de estar destacado um vigilante do Gabinete de Segurança do Ministério da Educação, este é "manifestamente insuficiente", assegura o mesmo professor. Desde terça-feira, dia em que a docente foi atacada, a tutela disponibilizou mais um segurança. "Esta é uma escola vulnerável; temos tido casos de indisciplina, mas nada de extraordinário", conclui o professor.
No ano passado foram comunicados ao Gabinete de Segurança do Ministério da Educação 79 casos de agressões a professores.

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