Investigadora da UC defende solução que permita a
conciliação entre a actividade profissional e a
família
Uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC)
defendeu hoje a adaptação do tempo de trabalho de
cada um ao seu ciclo de vida, para permitir a
conciliação entre a actividade profissional e a
família, segundo escreve a Lusa.
«A ideia de adaptar o tempo de trabalho ao ciclo de
vida das pessoas parece-me a mais fecunda», disse
hoje Lina Coelho, docente da faculdade de Economia
da UC, durante um encontro sobre a conciliação entre
trabalho e família, realizado em Coimbra.
Intervindo na iniciativa promovida pelo núcleo de
estudo e formação em Organização e Gestão da
Faculdade de Psicologia (NEFOG/FPCEUC), Lina Coelho
lembrou a «questão decisiva» da generalidade dos
contratos prever oito horas de trabalho por dia.
«Uma pessoa trabalha oito horas diárias dos 22 aos
65 anos e depois reforma-se. Há que mudar esta
perspectiva, poderá trabalhar oito no início [da
vida profissional], reduzir para seis quando tem
filhos pequenos (...) voltar aos oito e reformar-se
aos 65, 70 ou mesmo 80 anos se ainda estiver em
condições para trabalhar», disse.
Alertou que a resolução do problema da conciliação
entre trabalho e família é «impossível de ser
concretizada com uma lei única», igual para todos,
pela infinidade de actividades profissionais
existentes.
«Ao tentar resolver este problema podemos estar a
criar factores de desigualdade social. A questão é
muito séria, não é fácil nem linear, não é igual
para todos», disse.
Exemplificou com a diferença entre uma empresa
industrial, que labora continuamente, por turnos, ou
uma instituição com serviços de atendimento ao
público.
«Não é igual uma empresa industrial com cinco
pessoas ou uma de serviços com 500. A diferença de
soluções e a sua complexidade é a questão-chave»,
frisou a especialista do Centro de Estudos Sociais
da Universidade de Coimbra.
A ideia da inexistência de uma solução única foi
igualmente defendida por Margarida Carvalho Neto,
investigadora do GRAAL, movimento internacional de
mulheres de inspiração cristã.
«Não há uma única e melhor solução. A forma de
organizar o trabalho não é toda igual no contexto de
uma mesma empresa», afirmou.
Classificou de «crucial» o papel das chefias e
hierarquias, frisando ser «essencial» aumentar o
leque de recursos e opções à disposição dos
trabalhadores para que a conciliação com as tarefas
familiares seja possível.
Defendeu, a exemplo de Lina Coelho, a necessidade de
«ultrapassar a barreira de padronização dos
contratos de trabalho», entre outras medidas.
«Muitas soluções não envolvem custos. Por exemplo,
não marcar uma reunião para o final do dia»,
sustentou.
O encontro contou com a presença de um responsável
de recursos humanos da EDP, que em 2007 venceu o
galardão de «empresa mais familiarmente
responsável».
O director de Recursos Humanos da eléctrica
portuguesa, Eugénio de Carvalho, disse que no
universo empresarial português existem «outros bons
exemplos de boas práticas» na matéria.
Defendeu as políticas de flexibilidade laboral e de
conciliação entre trabalho e família em vigor na EDP,
onde 84 por cento dos cerca de 8.000 trabalhadores
possuem modalidades de horário flexível.
Todos os trabalhadores, segundo o director de
Recursos Humanos, têm licença para acompanhar filhos
pequenos, doentes ou deficientes ou flexibilidade
para gozarem dias de férias fora das épocas
habituais.
Apoios financeiros para creches e infantários ou uma
licença que confere dá direito ao trabalhador, em
quatro horas por mês, «tratar de questões
particulares inadiáveis», são outras entre muitas
das regalias da empresa.