Diário de Notícias - 15 Jan 07

 

Grupos do 'não' unem esforços na campanha

Paula Sá

 

Os aplausos, sempre muitos, subiam ou desciam de tom, consoante o número mais ou menos chorudo de assinaturas recolhidas para a formalização dos 15 movimentos cívicos pelo "não" ao aborto. Na sala do Hotel Tivoli Tejo, no Parque das Nações, estavam todos representados e traziam "selectas claques" de apoio. Foram estas que rejubilaram. O número mágico das cinco mil assinaturas exigido por lei foi batidos por todos os movimentos. O mais ovacionado foi Minho com Vida, de Braga e Viana do Castelo, que conseguiu mais de 34 mil assinaturas.

Os movimentos reunidos para afinar a estratégia da campanha do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez abriram as portas à comunicação social durante alguns minutos. Pretendiam precisamente mostrar que a união faz a força e que a força deriva dos 195 124 portugueses que os apoiaram nesta luta.

"As cerca de 200 mil assinaturas recolhidas em apenas um mês reflectem de uma forma impressiva a determinação do povo português de se opor à liberalização total do aborto até às dez semanas." A leitura impressiva da declaração conjunta dos 15 movimentos foi feita por Carmo Neves. Num encontro que começou atrasado porque a "SIC ainda está lá em baixo".

A preocupação de ter todas as televisões a captar aquele momento era um dos sinais de que os movimentos cívicos pelo "não" estão plenamente cientes da eficácia da mensagem nos órgãos de comunicação.

O que também foi patente na declaração sintética do que vão defender até 11 de Fevereiro, numa campanha que dizem "moderada, informativa e de proximidade".

Esta última prerrogativa conseguem-na através de uma efectiva implantação regional dos movimentos, que estão presentes em praticamente todos os distritos do Continente e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

A ideia mais forte da campanha - além da do valor inalienável da vida desde a concepção - reside na rejeição de parte da pergunta do referendo, aquela que diz que a IVG, a pedido da mulher, terá de ser feita em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.

"O aborto gratuito realizado em hospitais públicos ou em clínicas privadas e pago por todos os contribuintes, o desvio de recursos do Sistema Nacional de Saúde para o aborto em detrimento da prevenção e tratamento de doenças como o cancro e as doenças cardiovasculares, os efeitos destrutivos do aborto na saúde física e psíquica da mulher e o aumento do número de abortos", são as "consequências negativas" da "liberalização do aborto" que os movimentos do "não" vão enfatizar.

Terminada de ler a declaração, os jornalistas foram convidados a sair da sala. Os 15 movimentos preparavam o debate sobre a mensagem certa a difundir pelo País, em vários sotaques, para que os portugueses voltem a dizer "não" ao aborto "apenas e só porque não se quer ter um filho", tal como fizeram em 1998.