Os aplausos, sempre muitos, subiam ou desciam de
tom, consoante o número mais ou menos chorudo de
assinaturas recolhidas para a formalização dos 15
movimentos cívicos pelo "não" ao aborto. Na sala do
Hotel Tivoli Tejo, no Parque das Nações, estavam
todos representados e traziam "selectas claques" de
apoio. Foram estas que rejubilaram. O número mágico
das cinco mil assinaturas exigido por lei foi
batidos por todos os movimentos. O mais ovacionado
foi Minho com Vida, de Braga e Viana do Castelo, que
conseguiu mais de 34 mil assinaturas.
Os movimentos reunidos para afinar a estratégia da
campanha do referendo sobre a despenalização da
interrupção voluntária da gravidez abriram as portas
à comunicação social durante alguns minutos.
Pretendiam precisamente mostrar que a união faz a
força e que a força deriva dos 195 124 portugueses
que os apoiaram nesta luta.
"As cerca de 200 mil assinaturas recolhidas em
apenas um mês reflectem de uma forma impressiva a
determinação do povo português de se opor à
liberalização total do aborto até às dez semanas." A
leitura impressiva da declaração conjunta dos 15
movimentos foi feita por Carmo Neves. Num encontro
que começou atrasado porque a "SIC ainda está lá em
baixo".
A preocupação de ter todas as televisões a captar
aquele momento era um dos sinais de que os
movimentos cívicos pelo "não" estão plenamente
cientes da eficácia da mensagem nos órgãos de
comunicação.
O que também foi patente na declaração sintética do
que vão defender até 11 de Fevereiro, numa campanha
que dizem "moderada, informativa e de proximidade".
Esta última prerrogativa conseguem-na através de uma
efectiva implantação regional dos movimentos, que
estão presentes em praticamente todos os distritos
do Continente e nas regiões autónomas dos Açores e
da Madeira.
A ideia mais forte da campanha - além da do valor
inalienável da vida desde a concepção - reside na
rejeição de parte da pergunta do referendo, aquela
que diz que a IVG, a pedido da mulher, terá de ser
feita em estabelecimento de saúde legalmente
autorizado.
"O aborto gratuito realizado em hospitais públicos
ou em clínicas privadas e pago por todos os
contribuintes, o desvio de recursos do Sistema
Nacional de Saúde para o aborto em detrimento da
prevenção e tratamento de doenças como o cancro e as
doenças cardiovasculares, os efeitos destrutivos do
aborto na saúde física e psíquica da mulher e o
aumento do número de abortos", são as "consequências
negativas" da "liberalização do aborto" que os
movimentos do "não" vão enfatizar.
Terminada de ler a declaração, os jornalistas foram
convidados a sair da sala. Os 15 movimentos
preparavam o debate sobre a mensagem certa a
difundir pelo País, em vários sotaques, para que os
portugueses voltem a dizer "não" ao aborto "apenas e
só porque não se quer ter um filho", tal como
fizeram em 1998.