Destak - 23 Fev 2010

 

«Cheque bebé é uma medida puramente eleitoralista»

Medidas de incentivo à natalidade como o cheque bebé lançado pelo Governo "são resultado de pura demagogia", defende o investigador António Barreto, que alerta que a sociedade portuguesa está à beira de se transformar na mais envelhecida da Europa.


"Ninguém faz filhos para ter 50 euros por mês. Esses tipos de prestações, geralmente, são resultado de pura demagogia. [Como] o cheque bebé de 200 euros, no dia em que o bebé nasce, para receber daqui a 18 anos: ninguém vai fazer um filho por causa disso. É uma pura medida de atracção eleitoral, de atracção de popularidade", afirmou António Barreto, em entrevista à Lusa, a propósito da base de dados Pordata, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos hoje inaugura.

A Pordata reúne estatísticas sobre quase todas as áreas da sociedade portuguesa nos últimos cinquenta anos e, para António Barreto, que preside à fundação, o envelhecimento da população e a queda da fecundidade nestas décadas são dos aspetos mais "surpreendentes": "Uma mulher tinha tinha, em média, 3,5 filhos, hoje tem 1,2".

“A quebra da natalidade foi colossal. Estamos em vias de ser a sociedade mais envelhecida da Europa e éramos a mais nova da Europa há quarenta anos”, afirmou.

Para inverter a tendência da queda da natalidade, "é muito mais importante que a mulher, ou o marido, possa ter quatro ou cinco anos de licença de maternidade, que a mulher ou o marido possa trabalhar três ou quatro horas por dia em vez de oito horas... Isto é que são as coisas importantes", acrescentou António Barreto.

"As políticas natalistas implicam e exigem uma enormidade de recursos. Os países que têm uma política natalista consistente, consolidada, durante muitos e muitos anos, ao longo de 50, 100 anos, conseguem por vezes obter resultados no domínio da natalidade. Os países que não têm isso têm de recorrer à imigração, que vem completar o défice demográfico", disse.

Isto é, aliás, o que pode acontecer em Portugal, onde há hoje "uma população com cinco a seis por cento de estrangeiros, além dos naturalizados": "Estes últimos 30 ou 40 anos foram fenomenais na pluralidade da sociedade. Portugal não era uma sociedade plural, esteve 200 anos sem estrangeiros, e hoje é, hoje começa a ser".

A Fundação Francisco Manuel dos Santos apresenta hoje a Pordata, a maior base de base de dados estatísticos sobre Portugal de acesso gratuito e universal.