«Cheque bebé é uma medida puramente eleitoralista»
Medidas de incentivo à natalidade como o cheque bebé
lançado pelo Governo "são resultado de pura
demagogia", defende o investigador António Barreto,
que alerta que a sociedade portuguesa está à beira
de se transformar na mais envelhecida da Europa.
"Ninguém faz filhos para ter 50 euros por mês. Esses
tipos de prestações, geralmente, são resultado de
pura demagogia. [Como] o cheque bebé de 200 euros,
no dia em que o bebé nasce, para receber daqui a 18
anos: ninguém vai fazer um filho por causa disso. É
uma pura medida de atracção eleitoral, de atracção
de popularidade", afirmou António Barreto, em
entrevista à Lusa, a propósito da base de dados
Pordata, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos
hoje inaugura.
A Pordata reúne estatísticas sobre quase todas as
áreas da sociedade portuguesa nos últimos cinquenta
anos e, para António Barreto, que preside à
fundação, o envelhecimento da população e a queda da
fecundidade nestas décadas são dos aspetos mais
"surpreendentes": "Uma mulher tinha tinha, em média,
3,5 filhos, hoje tem 1,2".
“A quebra da natalidade foi colossal. Estamos em
vias de ser a sociedade mais envelhecida da Europa e
éramos a mais nova da Europa há quarenta anos”,
afirmou.
Para inverter a tendência da queda da natalidade, "é
muito mais importante que a mulher, ou o marido,
possa ter quatro ou cinco anos de licença de
maternidade, que a mulher ou o marido possa
trabalhar três ou quatro horas por dia em vez de
oito horas... Isto é que são as coisas importantes",
acrescentou António Barreto.
"As políticas natalistas implicam e exigem uma
enormidade de recursos. Os países que têm uma
política natalista consistente, consolidada, durante
muitos e muitos anos, ao longo de 50, 100 anos,
conseguem por vezes obter resultados no domínio da
natalidade. Os países que não têm isso têm de
recorrer à imigração, que vem completar o défice
demográfico", disse.
Isto é, aliás, o que pode acontecer em Portugal,
onde há hoje "uma população com cinco a seis por
cento de estrangeiros, além dos naturalizados":
"Estes últimos 30 ou 40 anos foram fenomenais na
pluralidade da sociedade. Portugal não era uma
sociedade plural, esteve 200 anos sem estrangeiros,
e hoje é, hoje começa a ser".
A Fundação Francisco Manuel dos Santos apresenta
hoje a Pordata, a maior base de base de dados
estatísticos sobre Portugal de acesso gratuito e
universal.