Público - 08
Dez 06
Fernando Castro, presidente da Associação
Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN)
Por Ana Taborda
Com um índice de fecundidade de 1,4 filhos por
mulher, Portugal está longe de assegurar a
substituição de gerações. Falta uma política de
incentivo à natalidade?
Não somos a favor de políticas natalistas.
Defendemos, sim, uma política de família. Ela é a
célula base da sociedade e, como tal, no mínimo não
deve ser hostilizada: os casais devem ter os filhos
que quiserem sem serem penalizados por isso. No
último inquérito à família e natalidade, quando se
perguntou às pessoas quantos filhos queriam ter, o
resultado foi 2,1. Portanto, se houver uma política
de apoio à natalidade que vá ao encontro desses
números, não é preciso uma política natalista: um
filho é um rombo imenso no orçamento familiar e, uma
vez que toda a sociedade vai beneficiar disso,
também tem que ajudar a financiar.
Em concreto, quais as medidas defendidas pela APFN?
Em primeiro lugar, um abono de família que mereça
esse nome. E que seja igual para todos,
independentemente do rendimento e do número de
filhos. Em relação ao montante, façam aquilo que
fizeram com as propinas: aumentaram, e bem, para os
valores de 1973. Nesse ano, as propinas eram de 275
escudos, o equivalente a um décimo do salário dos
recém-licenciados. Nós propomos que o abono de
família seja de 120 euros mensais por cada filho e,
mesmo assim, ainda estamos longe da média europeia,
em que um décimo do salário de um recém-licenciado
ronda os 150 euros.
Para além do abono de família, mesmo a nível fiscal,
as famílias numerosas não são incentivadas...
A nível fiscal, há um fortíssimo desincentivo à
família. Antigamente, bastava duas pessoas casarem
para pagarem mais impostos. Isso agora acabou, e
bem. Mas continua a não existir dedução por número
de filhos para os casados, enquanto os divorciados
podem deduzir, cada um, 6.500 euros por ano. Estes
valores deviam ser iguais: propomos que, quer
casados, quer divorciados, possam deduzir 3.250
euros por ano por cada filho, ou seja, metade desse
valor.
O próprio cálculo do IRS não tem em conta o número
de filhos e o rendimento é apenas dividido pelos
dois membros do casal. É uma situação justa?
Não. Nós defendemos a criação de um coeficiente
familiar: não é justo que um casal sem filhos, e
outro com dez, mas ambos com rendimentos de cinco
mil euros, paguem o mesmo IRS. Se houver um filho,
em vez de se dividir por dois, deve-se dividir por
2,1 e o ideal seria convergir até aos 0,5 por filho.
Por outro lado, deve ser fixado um nível mínimo de
existência para cada pessoa: até 14 vezes esse valor
por cada indivíduo, a família não deve estar sujeita
a impostos. Teoricamente esse valor devia ser
equivalente ao rendimento mínimo mas, para já,
defendemos metade. E o valor da reforma também deve
depender do número de filhos: quem tem uma família
numerosa não tem tempo para poupar e deve receber
mais.