Destak - 10 Set 09

 

Crises
João César das Neves

O cenário mais provável das legislativas é um governo minoritário ou de coligação instável, sem condições de governabilidade. Isso assusta muitos, sobretudo por causa da longa crise económica nacional, aquela onde estávamos antes do colapso externo e para onde voltaremos depois dele. Mas a nossa história tende a contradizer tais temores.

Desde o 25 de Abril já vivemos três crises financeiras graves, com endividamento explosivo e necessidade urgente de reformas duras. A primeira, a seguir à revolução, foi causada pelos seis governos provisórios de 1974 a 1976; a segunda, de meados dos anos 1980, pelos dois governos da A.D. de 1980 a 1983 e a terceira, a actual, pelos dois governos de Guterres de 1995 a 2002. Assim devemos os três dramas a três tipos de executivos muito diferentes: sem representação parlamentar a primeira, maioritários a segunda e minoritários a terceira.

A cura, pelo contrário, foi até agora sempre conseguida por governos transitórios e instáveis, apesar de maioritários. De facto, os planos de estabilização com o FMI, que nos salvaram das duas primeiras vezes, foram ambos negociados pelo PS de Mário Soares, coligado com o CDS em 1978 e com o PSD em 1983. Ambos os executivos constituíram soluções improvisadas e sem condições de governabilidade.

Pelo contrário, desde o início desta terceira crise temos tido apenas governos de maioria absoluta sólida, três até ao momento, que apesar disso não conseguiram resolver o problema. Assim, o próximo governo fraco e instável até é capaz de ser a solução que procuramos.