A Educação, os números da OCDE e as opções das
empresas e do Estado
José Manuel Fernandes
Não são entusiasmantes os números do último
relatório da OCDE sobre educação. E no banco dos
réus não está este ou outro governo, está um país
que não valoriza a formação qualificada.
Chega a ser deprimente tomar contacto com o
relatório do OCDE sobre educação. Primeiro, porque
estamos perante um clássico: Education at a glance é
uma espécie de "bíblia" que permite perceber onde se
avança e se recua, no que toca à educação, no
conjunto da OCDE. Segundo, porque nunca conseguimos
ficar bem na fotografia.
Porquê? Não por causa deste Governo. Ou até dos
anteriores. Por causa dos portugueses. Por causa de
quem somos e gostamos de ser. Por causa dos nossos
defeitos seculares que nenhum optimismo
grandiloquente mascara.
Não dos portugueses um por um: cada um de nós não
nasce pior ou melhor do que a generalidade dos seres
humanos. Mas dos portugueses como um todo e da sua
alegre irresponsabilidade colectiva. Ou do nosso
triste jogo do empurra que só se resolve no dia em
que não nos satisfizermos com a mediania de quem se
deixa levar e tivermos a ambição de sermos melhores.
Não mais espertos: melhores. Não mais habilidosos:
mais cultos. Não mais desenrascados: mais
organizados. Não mais reivindicativos: mais
responsáveis.
De facto, que pior retrato de um país do que aquele
que nos é dado neste relatório, onde descobrimos,
por exemplo, que apesar de, quer como país, quer
família a família, estarmos a investir mais em
educação, depois os que "educamos" não encontram
emprego. Haverá pior coisa a dizer de um país
atrasado - e somos um país atrasado com o "lustre"
falso e superficial da modernidade - do que, em
menos de dez anos (entre 1998 e 2006), se perdeu
capacidade de criar empregos para os jovens
licenciados? Não há, mas é o que verificamos ao ler
este relatório, pois o número de empregos para os
que têm entre 25 e 34 anos diminuiu oito por cento
entre o ano da Expo e 2006. Isto quando na também
periférica Finlândia a oferta de empregos para a
mesma faixa etária de jovens licenciados subiu nove
por cento.
Nestas coisas, nenhum governo - este ou outro - faz
milagres. Ou as empresas criam empregos onde se
requer uma educação de nível superior, ou não criam.
As nossas empresas não têm criado.
Podemos imaginar mil motivos para isso ter
acontecido, desde o analfabetismo de muitos
empresários à total desadequação entre o que as
faculdades despejam no mercado de trabalho e aquilo
de que este necessita. A sensação é que estamos como
que num nó cego, que ninguém é capaz de desatar e
onde todos dizem mal de todos.
É pena. A matéria-prima de que este povo é feito nem
é má de todo. Um dos capítulos interessantes deste
relatório é o que analisa o comportamento dos que
são capazes de sair da mediania em áreas como a
matemática ou as ciências exactas.
A base de trabalho são os resultados dos testes
realizados pela OCDE nos países-membros destinados a
avaliar, de forma comparável, os conhecimentos dos
estudantes - os chamados testes PISA. Ora, olhando
para os números, verificamos que os nossos melhores
alunos a ciências - ou, pelo menos, os que tiveram
melhores resultados - estão entre os que menos se
diferenciam por classes de rendimento (um bom sinal)
e estão à frente entre os que manifestam mais
vontade de aprofundar os estudos nestas áreas (um
excelente sinal).
Porém, o que é que o país, como um todo, lhes
oferece? Ser um bom físico, um bom biólogo, um bom
geólogo, um bom matemático, um bom programador ou um
bom químico raras vezes tem como recompensa uma
oferta de trabalho à altura das expectativas dos
nossos melhores entre os melhores.
Esta realidade é uma verdadeira tragédia nacional -
não apenas por assistirmos à designada "fuga de
cérebros", mas sobretudo por não conseguirmos fixar,
a não ser por razões afectivas, os que podem fazer a
diferença. E, sendo uma tragédia nacional, importa
perceber melhor por que ocorre. O que depende dos
correctos incentivos do Estado - que infelizmente
raramente são correctos, pois alimentam mais
depressa a cultura do subsídio do que a cultura do
risco - e o que depende da mediocridade do nosso
tecido industrial. Ou dessa mistura de
chico-espertismo e subsídio-dependência que ajudou a
serem quem são os empresários que temos.
Por estranho que pareça há, nos programas
eleitorais, respostas diferentes para este tipo de
problemas. O leitor poderá procurá-las e pensar se,
por exemplo, é melhor termos mais concorrência ou
termos mais ajudas às empresas em dificuldades. E
ver o que dizem sobre isso os vários partidos.