Público - 08 Set 09

 

A Educação, os números da OCDE e as opções das empresas e do Estado
José Manuel Fernandes

Não são entusiasmantes os números do último relatório da OCDE sobre educação. E no banco dos réus não está este ou outro governo, está um país que não valoriza a formação qualificada.

Chega a ser deprimente tomar contacto com o relatório do OCDE sobre educação. Primeiro, porque estamos perante um clássico: Education at a glance é uma espécie de "bíblia" que permite perceber onde se avança e se recua, no que toca à educação, no conjunto da OCDE. Segundo, porque nunca conseguimos ficar bem na fotografia.

Porquê? Não por causa deste Governo. Ou até dos anteriores. Por causa dos portugueses. Por causa de quem somos e gostamos de ser. Por causa dos nossos defeitos seculares que nenhum optimismo grandiloquente mascara.

Não dos portugueses um por um: cada um de nós não nasce pior ou melhor do que a generalidade dos seres humanos. Mas dos portugueses como um todo e da sua alegre irresponsabilidade colectiva. Ou do nosso triste jogo do empurra que só se resolve no dia em que não nos satisfizermos com a mediania de quem se deixa levar e tivermos a ambição de sermos melhores. Não mais espertos: melhores. Não mais habilidosos: mais cultos. Não mais desenrascados: mais organizados. Não mais reivindicativos: mais responsáveis.

De facto, que pior retrato de um país do que aquele que nos é dado neste relatório, onde descobrimos, por exemplo, que apesar de, quer como país, quer família a família, estarmos a investir mais em educação, depois os que "educamos" não encontram emprego. Haverá pior coisa a dizer de um país atrasado - e somos um país atrasado com o "lustre" falso e superficial da modernidade - do que, em menos de dez anos (entre 1998 e 2006), se perdeu capacidade de criar empregos para os jovens licenciados? Não há, mas é o que verificamos ao ler este relatório, pois o número de empregos para os que têm entre 25 e 34 anos diminuiu oito por cento entre o ano da Expo e 2006. Isto quando na também periférica Finlândia a oferta de empregos para a mesma faixa etária de jovens licenciados subiu nove por cento.

Nestas coisas, nenhum governo - este ou outro - faz milagres. Ou as empresas criam empregos onde se requer uma educação de nível superior, ou não criam. As nossas empresas não têm criado.

Podemos imaginar mil motivos para isso ter acontecido, desde o analfabetismo de muitos empresários à total desadequação entre o que as faculdades despejam no mercado de trabalho e aquilo de que este necessita. A sensação é que estamos como que num nó cego, que ninguém é capaz de desatar e onde todos dizem mal de todos.

É pena. A matéria-prima de que este povo é feito nem é má de todo. Um dos capítulos interessantes deste relatório é o que analisa o comportamento dos que são capazes de sair da mediania em áreas como a matemática ou as ciências exactas.

A base de trabalho são os resultados dos testes realizados pela OCDE nos países-membros destinados a avaliar, de forma comparável, os conhecimentos dos estudantes - os chamados testes PISA. Ora, olhando para os números, verificamos que os nossos melhores alunos a ciências - ou, pelo menos, os que tiveram melhores resultados - estão entre os que menos se diferenciam por classes de rendimento (um bom sinal) e estão à frente entre os que manifestam mais vontade de aprofundar os estudos nestas áreas (um excelente sinal).

Porém, o que é que o país, como um todo, lhes oferece? Ser um bom físico, um bom biólogo, um bom geólogo, um bom matemático, um bom programador ou um bom químico raras vezes tem como recompensa uma oferta de trabalho à altura das expectativas dos nossos melhores entre os melhores.

Esta realidade é uma verdadeira tragédia nacional - não apenas por assistirmos à designada "fuga de cérebros", mas sobretudo por não conseguirmos fixar, a não ser por razões afectivas, os que podem fazer a diferença. E, sendo uma tragédia nacional, importa perceber melhor por que ocorre. O que depende dos correctos incentivos do Estado - que infelizmente raramente são correctos, pois alimentam mais depressa a cultura do subsídio do que a cultura do risco - e o que depende da mediocridade do nosso tecido industrial. Ou dessa mistura de chico-espertismo e subsídio-dependência que ajudou a serem quem são os empresários que temos.

Por estranho que pareça há, nos programas eleitorais, respostas diferentes para este tipo de problemas. O leitor poderá procurá-las e pensar se, por exemplo, é melhor termos mais concorrência ou termos mais ajudas às empresas em dificuldades. E ver o que dizem sobre isso os vários partidos.