Público - 30
Nov 06
Quem recebe acima de 4774 euros fica na mesma
Pensões mais baixas aumentam 3,1 por cento
João Manuel Rocha
Os pensionistas que recebem menos de 596,79 euros
por mês vão ter um aumento de 3,1, com efeitos a
partir de amanhã, e os que recebem mais de 4774,35
euros não serão aumentados.
A actualização das pensões para 2007, ontem
anunciada pelo Ministério do Trabalho e
Solidariedade Social, fixa também aumentos
diferenciados para as restantes pensões: 2,6 por
cento para as que variam entre 596,80 euros e
2387,16 euros e 2,4 por cento para os pensionistas
que receberam no último ano entre 2387,17 euros e
4774,35 euros.
O aumento de 3,1 por cento abrange, segundo o
Governo, 92 por cento das pensões e permite que
"mais de 500 mil pensionistas do regime geral, com
pensões até 596,79 euros", tenham aumentos nas suas
pensões superiores à média dos anos anteriores. No
ano passado, as pensões do regime geral aumentaram
2,3 por cento.
No caso das pensões de invalidez e velhice do regime
não contributivo e equiparadas - designadamente as
pensões sociais e as do regime especial de segurança
social das actividades agrícolas - o aumento é
também de 3,1 por cento.
"O presente aumento garante, de acordo com a
situação económica do país, a reposição do poder de
compra das pensões, especialmente das mais baixas",
refere uma nota à imprensa divulgada pelo ministério
dirigido por José Vieira da Silva.
Ao contrário do que acontecia, o Governo teve em
conta para o cálculo das pensões não a inflação
prevista para 2007 - 2,1 por cento, segundo o
Orçamento do Estado - mas a inflação verificada nos
12 meses anteriores: os referidos 3,1 por cento.
Para a actualização ontem anunciada, o Governo
seguiu de perto a fórmula de cálculo negociada com
as confederações sindicais e patronais no quadro da
reforma da segurança social. A regra prevê, num
contexto de crescimento do produto interno bruto
inferior a dois por cento, como é o actual, aumentos
equivalentes à inflação verificada para as pensões
inferiores a 1,5 salários mínimos.
No caso das pensões entre 1,5 e 6 salários mínimos
(índice que futuramente será substituído pelo IAS -
Indexante de Apoios Sociais), a fórmula de cálculo
prevê uma actualização equivalente à inflação
deduzida em 0,5 pontos percentuais. Para pensões
entre 6 e 12 salários mínimos a regra prevê que à
inflação sejam deduzidos 0,75 pontos percentuais.
O diploma que cria o novo indexante foi aprovado na
quinta-feira passada, na generalidade, pela
Assembleia da República, com os votos favoráveis do
PS, abstenção do PSD e do CDS e o voto contra da
oposição de esquerda.
Satisfação da UGT,
descontentamento da CGTP
Numa primeira reacção aos aumentos, o líder da UGT,
João Proença, considerou-os "bastante positivos". "O
Governo vinha aumentando as pensões de acordo com
base na inflação prevista, agora é com base na
inflação verificada. Para a esmagadora maioria
traduz-se num aumento significativo do poder de
compra", disse ao PÚBLICO.
Leitura diferente é a que faz a CGTP. "O aumento é
igual à inflação. Mantém-se o poder de compra, não
recupera nada. Os mais pobres deviam ter um sinal de
melhoria quando se avizinham aumentos de bens
essenciais, as pessoas vão ter uma vida difícil",
afirmou Maria do Carmo Tavares, da comissão
executiva da central sindical.
A dirigente da CGTP defende aumentos mais elevados
para as pensões mais baixas, mas está também contra
o congelamento das pensões mais altas porque,
afirma, "há sucessivamente, ano após ano, o
agravamento dessas pensões e essas pessoas também
contribuíram e muito". Para além disso, o não
aumento tem, do seu ponto de vista, outro efeito:
"Dá descrédito ao sistema e pode levar muitas destas
camadas a ver com bons olhos sistemas de
capitalização", disse também ao PÚBLICO.