O ensino privado é objectivamente melhor do que o
públicoA liberdade educativa é um direito
constitucional mas, do mesmo modo como, para alguns,
a liberdade religiosa é apenas um pretexto para
instaurar o ateísmo sob capa de laicismo, e impedir
assim qualquer expressão pública de conteúdo
religioso, também a liberdade de educação não parece
ser mais do que um subterfúgio para impor um ensino
oficial tendencialmente único.
Só assim se entendem algumas reacções ao ranking das
escolas: como não só não confirma mas desmente a
tese oficial da excelência da escola pública, já não
vale. É de supor que, enquanto não forem apuradas,
como primeiras classificadas, várias escolas
públicas, estas listagens sejam sistematicamente
desconsideradas, por mais que a objectividade das
classificações diga o contrário.
Para provar a inutilidade do ranking, afirma-se que
são os bons alunos que fazem as boas escolas.
Porquê? Porque. Se os bons alunos têm notas altas em
qualquer estabelecimento de ensino, os maus
estudantes só conseguem melhorar num ensino de
qualidade. Apesar da escola pública receber bons
alunos, nomeadamente entre os que não têm capacidade
económica para optar pelo ensino privado, também a
escola privada recebe bastantes maus estudantes, que
escolhem esse ensino por várias razões, nomeadamente
de ordem social e económica. Portanto, se as escolas
mais bem classificadas recebessem os alunos piores,
estes, decerto, não seriam tão maus.
Mas há uma questão em que os detractores dos
rankings têm razão: seria absurdo aferir a qualidade
das escolas apenas pelas classificações dos seus
alunos. As notas são importantes, mas muito mais é a
formação do carácter e a aprendizagem da liberdade.
A função da escola não se esgota na transmissão do
saber, mas realiza-se no desenvolvimento integral do
ser humano, de acordo com os princípios da liberdade
e da responsabilidade. É esta a razão principal que
anima muitas famílias a não enveredar pelo ensino
público.
Seria preciso ser muito ingénuo para pensar que o
ensino público é neutro ou ideologicamente
descomprometido. Com efeito, a escola promovida pelo
Estado educa as novas gerações, com pretensa
autoridade científica e fingida neutralidade
política, segundo os princípios do pensamento
politicamente correcto.
A imposição da educação sexual, ao arrepio da
vontade dos pais e das famílias, é um bom exemplo de
como o poder está empenhado em realizar uma
autêntica "revolução cultural", da qual é de esperar
uma nova "mocidade portuguesa", tão fiel ao actual
regime como o foi a sua homónima antepassada. O
grande óbice para este ambicioso plano continua a
ser a educação privada, sobretudo o ensino de
inspiração cristã, que insiste em formar cidadãos
livres, conscientes da sua dignidade e da sua
responsabilidade social, homens e mulheres capazes
de pensarem pelas suas próprias cabeças. Não é por
acaso que as piores tiranias, como o nazismo e o
comunismo, são ateias: em ambos os casos a exclusão
da religião foi cruelmente praticada pelo Estado,
nomeadamente através do seu ensino público
totalitário.
Como não é politicamente correcto propugnar o ensino
oficial único, proclama-se formalmente a liberdade
de educação mas, depois, às escondidas, asfixia-se o
ensino privado, mesmo quando oferece garantias de
qualidade.
Assim se explica a anunciada supressão do subsídio à
melhor universidade portuguesa não estatal, bem como
a ameaça de revisão, ou seja, de eliminação, dos
"contratos de associação" com escolas particulares.
Em nome da qualidade de ensino? Certamente que não,
pois o ensino privado é objectivamente melhor do que
o público. Em nome da liberdade de educação? Menos
ainda, pois a pretendida eliminação do ensino
privado só pode servir uma causa: a do ensino
"oficial" público e tendencialmente único. A tese da
"unicidade" educativa é, em suma, um xeque-mate à
liberdade de educação em Portugal. Vice-Presidente
da Confederação Nacional de Associações de Família (CNAF).