Os professores estão de novo em guerra. Como todos
os antecessores, a senhora ministra da Educação é a
pessoa mais enxovalhada e insultada do País. Ouvindo
as queixas, tem de se dizer que em muitas coisas os
professores têm razão. O ministério, mais uma vez,
atrapalhou tudo. Mas isso não chega como
justificação.
Todos os que gritam na televisão e escrevem
enfurecidos são mestres, uma referência da
juventude. Com que cara, no dia seguinte, vão
enfrentar uma turma de alunos? Que respeito
granjeiam depois de tais excessos? A coisa fica pior
ao saber-se que um dos temas em discussão é a
avaliação do desempenho. Deve ser divertido para um
aluno, que é classificado pelos mesmos docentes sem
poder protestar ou indignar--se, ver os seus tutores
berrar de indignação por serem avaliados. Se o que
os stores fazem é tomado como exemplo, os exames e
pautas deste país passarão a ser muito mais
coloridos e animados.
Os professores afirmam que são a favor da avaliação,
mas contra esta avaliação (declaração da Fenprof de
15 /10/2007). Essa é há séculos precisamente a
posição dos alunos. Todos os estudantes são
favoráveis às notas e descontentes com a que
receberam. Os testes são sempre difíceis, as datas
sempre inconvenientes, os professores sempre
injustos. Mas é preciso aguentar com cara alegre.
Agora, com o feiticeiro a sofrer o feitiço, as
coisas podem mudar. Se houvesse vergonha, muitos
teriam dificuldade em encarar a turma depois de tais
atitudes públicas.
Até porque, na catadupa de razões, algumas deixam
bastante a desejar. Quantas das críticas
(arbitrariedade, influências, burocracia) não são
plausíveis em todas as classificações, por exemplo
na que eles fazem dos jovens? E, pior, a avaliação
proposta é muito mais mansa que a dos alunos. Começa
por uma ficha de auto-avaliação (que os educandos
adorariam preencher), seguida da opinião do
professor titular coordenador e do conselho
executivo. O carinho com eles é muito superior ao
deles com a malta.
Outra queixa pungente é a existência de quotas para
acesso a professor titular, pelo que "só conseguirá
sê-lo (por muito bom que seja) por morte ou
aposentação do seu par" (ver Avaliação de
desempenho. Pormenores... em www.fne.pt).
Mas essa é desde sempre a situação dos quadros
académicos.
Na universidade, quando o departamento está cheio,
só se acede a professor associado ou catedrático por
saída de alguém. Dado o escandaloso excesso de
professores no País, a quota é bem compreensível. Se
a "motivação pela Excelência esbarra com um muro
denominado 'quota' " (loc. cit.), é porque não se
sabe o que seja uma genuína vocação educativa.
Nas universidades, entretanto, a vida não está
pacífica. O Ministério da Tecnologia, Ciência e
Ensino Superior publicou um estudo sobre a
empregabilidade dos vários cursos superiores. O
presidente do Conselho de Reitores criticou
fortemente essa medida a partir de certos reparos
técnicos (Lusa, 28/Fev.). Também tem razão, porque
empregabilidade é difícil de medir, embora mesmo mal
calculado, esse indicador não deixe de ter
significado.
A declaração termina com uma frase notável: "Serão
empregadores muitas vezes com a quarta classe que
vão decidir quais as políticas e quais as
instituições válidas no ensino superior em
Portugal?" (Lusa, 28/02/2008).
É verdade. Porque essas pessoas são a realidade, e
os cursos válidos deste país têm de se defrontar com
a realidade.
Os médicos tratam pessoas com a quarta classe, os
advogados defendem- -nas, os engenheiros fazem-lhes
casas. As pessoas com a quarta classe são os
clientes e utentes que avaliam o que valem os
profissionais formados nas instituições válidas. Se
as tais instituições válidas não passam esse teste,
onde está a sua validade?
Os empregadores com a quarta classe conhecem melhor
a sua empresa e mercado que os catedráticos, até de
Economia como eu. Quando não contratam os
licenciados, eles lá sabem porquê.
Os professores são uma referência nacional. Têm de
sair da torre de marfim das escolas e privilégios e
enfrentar o mundo.