Existe uma regra simples que se deve sempre usar na
busca pela justiça social: quando se ouve alguém
denunciar violentamente uma perseguição é bom ver
quem ele, com isso, pretende perseguir. Este
princípio resulta de dois factos simples. Primeiro,
os verdadeiros perseguidos raramente têm voz; por
isso não são eles que estão a falar.
Segundo, a maior parte dos ataques foram sempre
justificados como retribuição por anteriores
agravos. As coisas raramente são simples, separadas
em bom e mau e todos têm culpas. A denúncia brutal
de alguém costuma ser uma mera preparação para o
agredir.
Foram os alegados atentados a alemães nos Sudetas e
Danzig que justificaram a intervenção de Hitler na
Checoslováquia e a invasão da Polónia. Quando os
historiadores positivistas começaram a escrever a
história da Inquisição e das Cruzadas, a finalidade
não era reparar esses antigos crimes, mas preparar a
mais terrível perseguição de sempre à Igreja
Católica.
Hoje fala-se muito de terroristas e fundamentalistas
islâmicos, mas é o Afeganistão e o Iraque que estão
a ser bombardeados. Foi em nome da dignidade das
mulheres supostamente presas que se justificou a
promoção do aborto, o maior genocídio da
actualidade. A defesa dos homossexuais discriminados
acaba em ataques à família e à religião e muitos
esforços na protecção do ambiente não passam de
formas de extorsão a empresas.
É sempre boa ideia ver quem são aqueles que a
opinião pública do momento denuncia como agressores
e perseguidores. Esses serão, em contraposição,
aqueles a que a sociedade se prepara para atacar.