As perguntas do voto católico
António Pinheiro Torres
As eleições do próximo dia 5 de Junho são uma
ocasião de afirmação deste espaço político
saudavelmente inorgânico
Existe na sociedade portuguesa um bloco eleitoral a
que os jornais chamam "voto católico", para o qual,
na esteira de 14 anos de movimentações cívicas,
eleitorais e referendárias, nos apercebemos de que o
critério decisivo de voto é a tutela da família e da
vida, da liberdade de educação e religiosa, e da
subsidiariedade. Sempre caldeado com um realismo na
escolha generalizada entre os partidos maiores, mas
cada vez menos permeável ao voto útil.
A demonstrá-lo mais recentemente estiveram as
eleições presidenciais, como resulta da análise da
perda de votos por Cavaco Silva, com predomínio nos
concelhos onde o não venceu no segundo referendo do
aborto, ou do exame da subida astronómica dos votos
nulos e brancos, num quadro em que à esquerda se
podia votar em todos os matizes possíveis.
Por outro lado, para este bloco eleitoral é claro
que importa não faltar às urnas para sair deste
ciclo "trágico" de seis anos em que uma avalanche de
legislação abalou os fundamentos de uma convivência
civilizada e sustentável na sociedade portuguesa. As
leis do aborto, da procriação artificial, do
casamento entre pessoas e do mesmo sexo, do divórcio
e da mudança de sexo, com o seu cortejo de
injustiças, infelicidade e pobreza, abriram feridas
que serão difíceis de sarar. As dificuldades postas
às escolas particulares, o fecho dos ATL, a retirada
de crucifixos das escolas e repartições públicas, as
limitações à actividade das instituições de
solidariedade, a difusão da ideologia do género, a
pesada carga fiscal que dificulta a vida das
famílias, a equiparação das uniões de facto ao
casamento, e tantas outras medidas semelhantes
ajudaram a conduzir-nos à actual situação de crise e
desarmaram a energia dos portugueses para a
enfrentar.
Vistas assim as coisas, as eleições do próximo dia 5
de Junho são uma ocasião de afirmação deste espaço
político saudavelmente inorgânico, mas encontrável
na opinião publicada, na área social e cultural e na
intervenção partidária no centro-direita. Um momento
de discernimento do sentido de voto, não fechando as
portas previamente a nenhuma conclusão. Um trabalho
que começa pela formulação de três perguntas aos
partidos concorrentes às eleições: que prevêem os
programas eleitorais nestes temas estruturais? Que
compromissos de voto tomam os candidatos em relação
a esses pontos? Se por iniciativa popular for
proposto referendo sobre algumas dessas matérias,
qual a posição?
A resposta a essas perguntas, salvaguardado algum
escrúpulo pessoal de filiação partidária, será
decisiva para a orientação de voto de parte
relevante do eleitorado deste bloco "do voto
católico". Aos partidos interessados em perceber que
a prioridade às famílias, a cultura da
responsabilidade na temática da vida, a liberdade de
escolha na educação e de prática religiosa na
sociedade e a aplicação a todos os níveis da
subsidiariedade são os mais potentes instrumentos
que temos para saldar o défice, assegurar a
sustentabilidade do Estado social e sair da crise em
que o actual Governo nos deixou.
Dirigente de movimentos cívicos desde 1997 (porcausadele.blogspot.com)