Acaba de ser divulgado o último relatório da
Fundação Richard Zwentzerg, instituto internacional
dedicado aos estudos lusitanos. Como sempre, o texto
só é acessível através do DN e não deve ser
procurado por outros meios. Desta vez, o tema é o
grau de sustentabilidade do desenvolvimento
português. Seguem-se extractos relevantes do texto.
"Uma questão inicial que alguns espíritos mesquinhos
colocam é a de saber como pode analisar-se o grau de
sustentabilidade do desenvolvimento de um país que
não está em desenvolvimento. A maioria dos analistas
não liga a este pormenor, mas em nome do rigor
devemos então dizer que o relatório considera a
sustentabilidade do desenvolvimento que Portugal
teria se estivesse em desenvolvimento.
"Uma outra questão prévia tem a ver com o facto de,
dado o número de óbitos ser maior que o de
nascimentos, o país não só não está em
desenvolvimento como se encontra em vias de
extinção. Durante uns anos, isto foi disfarçado pela
forte imigração, mas ultimamente o fenómeno
inverteu-se, e não só a atracção de estrangeiros se
esfumou como começou uma intensa e acelerada
emigração. Dado a taxa de fertilidade ser a mais
baixa da Europa Ocidental e das mais baixa do mundo,
um dos nossos especialistas afirmou mesmo que, em
vez de um relatório de sustentabilidade, o que
Portugal precisa é de uma comissão liquidatária.
"Isto seria suficiente para criar enorme
preocupação, ou até depressão e pânico na maior
parte dos países civilizados. O mais curioso é que a
sociedade portuguesa se mantém alheia a estas
questões decisivas, que não preocupam minimamente os
indígenas. Estes encontram-se envolvidos em enormes
debates acerca de comboios, escutas, futebol e
homossexuais. Pode dizer-se que o melhor factor de
sustentabilidade em Portugal é a inconsciência.
"Passando à análise concretas das políticas de
sustentabilidade, os nossos peritos constataram com
surpresa e prazer a profusão, profundidade e
qualidade dessas intervenções em Portugal. O país
tem regulamentos, portarias, decretos e requisitos
que condicionam, promovem e orientam todas as
dimensões de sustentabilidade que constam dos nossos
manuais do tema, e até algumas em que nem tínhamos
pensado. Além disso, cada um desses articulados
dispõe de um pequeno exército de fiscais que
inspecciona, espiolha, julga e pune os cidadãos, com
vigor e exuberância. Pode não haver desenvolvimento,
mas há uma imposição esmagadora das regras de
sustentabilidade.
"Claro que, no meio de tanta actividade, não pode
pedir-se coerência entre essas medidas. É verdade
que as exigências de equilíbrio ambiental chocam com
os direitos dos trabalhadores, a defesa do
consumidor impede a emancipação da mulher e a
biodiversidade, a eficiência energética perturba a
promoção da produtividade e da justiça social, o
desenvolvimento da cultura e a defesa do património
bloqueiam o combate à obesidade, tabagismo,
desertificação e absentismo. Com tantas restrições e
exigências, é fácil de ver que a única hipótese que
a sustentabilidade permite é o desenvolvimento nulo.
E tem sido precisamente no sentido desse vácuo que a
política nacional se tem orientado nos últimos anos.
"Os sinais de contradição são miríade. Portugal é
campeão de energias renováveis mas os custos, mesmos
disfarçados, mostram porque é que mais ninguém quer
tê-las. Multa-se o corte de sobreiros, mas
subsidiam-se os abortos. Dificultam-se os
despedimentos e facilita-se o divórcio. Perseguem--se
fumadores e excesso de velocidade, mas promove-se
pornografia e promiscuidade. Profissionais, com
formação que custou milhões e ainda mais 20 anos de
vida útil, reformam-se no pleno das capacidades. Os
portugueses têm muito cuidado com o que metem nos
pulmões e no estômago, mas não ligam ao que metem no
cérebro.
"Este relatório dá nota máxima a Portugal em todos
os requisitos de sustentabilidade. Não pode
exigir-se mais de um país que até dá lições a outros
mais ricos. Seguindo este caminho, Portugal não tem
futuro. Mas, enquanto existir, é exemplo para o
mundo."