Público - 28 Jun 06

Petições sobre IVG e defesa da vida à espera de nova consulta popular

Leonete Botelho

JS reconhece que a sua proposta já não faz sentido, enquanto peticionantes da defesa da vida irão exigir apreciação da sua iniciativa

Duas petições de sinal contrário - uma a pedir que o Parlamento descriminalize a interrupção voluntária da gravidez (IVG) até às 10 semanas e outra a querer um regime legal de protecção do embrião - "marinam" na Assembleia da República desde o início de 2004, sem que tenham sequer sido objecto de relatório preliminar.
A explicação para o não agendamento e discussão destas iniciativas populares é meramente política, reconhece Osvaldo Castro, presidente da comissão de assuntos constitucionais, direitos, liberdades e garantias, para onde foram encaminhadas as três petições. "Não vale a pena pôr em discussão na especialidade assuntos que não tenham o acordo dos dois maiores partidos no sentido do seu agendamento", diz.
A questão é que desde a tomada de posse do Governo Sócrates está prevista a realização de um novo referendo. Que "só não se realizou pelas razões que se sabem", afirma Osvaldo Castro, lembrando a não convocação pelo Presidente Jorge Sampaio em Maio de 2005 e o chumbo do Tribunal Constitucional à nova proposta de referendo feita pelo PS em Setembro.
"Logo nessa altura o primeiro-ministro veio afirmar que o PS voltaria a propor o referendo no início da nova sessão legislativa, em Setembro próximo", frisa Castro. Para justificar porque é que, na 1ª comissão, "tem havido o entendimento tácito da desnecessidade de fazer relatórios" sobre as petições relacionadas com o tema. De qualquer forma, o assunto vai ser hoje levantado na reunião da 1ª comissão.
A Juventude Socialista (JS), promotora da petição pela descriminalização, reconhece que a sua iniciativa perdeu sentido. "Temos um projecto de lei aprovado no Parlamento e vai haver uma nova proposta de realização do referendo já em Setembro", afirma Pedro Nuno Santos, actual líder da estrutura.
Pedro Nuno recorda o contexto em que, ainda durante 2003, a JS lançou esta petição: "Havia um movimento do PS, PCP e BE para recolher assinaturas para uma petição por um novo referendo à despenalização do aborto. Mas Jamila Madeira, então líder da JS e deputada, queria mais: pretendia que a Assembleia legislasse" directamente e não apenas para despenalizar. A petição era pela descriminalização, para retirar o aborto até às 10 semanas do Código Penal. Recolheu cinco mil assinaturas.
No pólo oposto coloca-se a primeira subscritora da petição "Mais vida mais família", Isabel Pedro. "É provável que possamos exigir que a nossa iniciativa seja votada", afirmou ao PÚBLICO. Quando foi entregue ao então presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, este abaixo-assinado tinha 190.635 assinaturas e contava com uma conjuntura política favorável: a maioria PSD-CDS. Mas mesmo assim nunca foi apreciada.
Mota Amaral refuta qualquer motivação política: "Naquela altura estávamos a pôr a casa em ordem, havia petições atrasadas desde a VIª legislatura", lembra. "Quando íamos a caminho das petições da IXª legislatura, fomos dissolvidos", acrescenta, frisando que "se o Parlamento tivesse cumprido o seu mandato elas teriam sido apreciadas". L.B.