Portugal sofre neste momento três gripes acumuladas.
Daí o mal-estar, dores de cabeça, náuseas,
paralisia. Em vez de remédios improvisados, era bom
usar antibiótico.
Todos sabemos que apanhámos a gripe grega. Os
credores assustaram-se com a dívida pública
excessiva e descontrolada e ameaçam perder a
confiança. Embora localizada só nas fossas nasais, a
constipação influencia toda a economia com subida
dos juros, bloqueio financeiro, degradação da
credibilidade e falta de dinamismo.
Pior é que também sofremos de uma variante da gripe
americana. Não apenas o Estado está endividado, mas
toda a economia se deixou deslumbrar com a
facilidade do crédito. Nos EUA foi o sub-prime, por
cá foi a descida das taxas por causa do euro. Agora
os consumidores, apertados pelos juros antigos, não
têm poder de compra, como as empresas não se atrevem
a investir. Isso cria febre, perda de apetite,
tonturas, dores por todo o corpo.
Essas duas gripes, apenas financeiras, são sérias
mas passageiras. Pior é termos também uma forma da
gripe europeia, estrutural e em dose bastante
virulenta. A actividade económica está estrangulada
por bloqueios sociais e políticos, num momento de
reestruturação mundial em que precisava de
agilidade. Não é apenas o peso esmagador dos
impostos e o entorpecimento da burocracia, mas toda
uma portentosa máquina que, em nome de louváveis
finalidades e múltiplos interesses, vigia, ameaça,
castiga, multa, prende, amarra quem quer que queira
trabalhar e produzir.
As leis laborais impedem o ajustamento das empresas,
mas são apenas uma pequena parte do enorme
emaranhado de decretos, portarias, directivas e
regulamentos que as paralisam. Exércitos de fiscais
e inspectores castigam quem produz. Das regras
ambientais à defesa do consumidor, das posturas
camarárias ao ordenamento do território, do combate
ao tabagismo, discriminação, poluição e injustiça à
promoção da criatividade, juventude, biodiversidade
e cultura, tudo serve para encarecer ou bloquear a
iniciativa.
Além disso, para desenvolver a economia, o Estado
distorce-a protegendo os sectores que acarinha.
Construção, comunicações, bancos e energia têm
mercado seguro, benefícios blindados, lucros
garantidos. Não admira que prosperem e atraiam os
melhores cérebros e investimentos, secando o resto.
Quanto mais o Estado promove o desenvolvimento mais
ele definha. Atacando o cérebro e o coração, esta
gripe gera delírio, palpitações e paralisia,
ameaçando a própria sobrevivência nacional.
Embora diferentes na localização e sintomas, as três
gripes têm identificado um vírus comum. É a ânsia da
vida fácil, o mito da riqueza sem esforço, a ilusão
de pertencer ao clube sem pagar a jóia. Isto não é
só nos maus e corruptos, mas em todos. Participando
na União Europeia, adquirimos exigências sem meios
para as suportar. Os sindicatos querem salários
europeus, os consumidores ambições europeias, os
cidadãos reclamações comunitárias. Há é poucas
empresas e produtividades de nível europeu. Leis,
despesas públicas, e até os salários e consumos
ajustaram-se facilmente aos níveis da União. As
capacidades, resultados e serviços é que não.
As gripes juntas criam situação grave. O tratamento
eficaz impõe jejum e disciplina para regressar à
solidez e credibilidade indispensáveis para relançar
o desenvolvimento. Há que cortar ilusões,
exigências, mas também salários, pensões, subsídios,
benesses, direitos, ajustando à disponibilidade de
recursos. Não é preciso cortar muito, apenas
equilibrar. Quando mais depressa e mais abrangente,
melhor e mais justo.
Todos sabem o que há a fazer mas nenhum político
sensato quer as culpas de o aplicar. Por isso se
perde tempo em debates espúrios e mezinhas débeis e
provisórias. Mas existe um antibiótico para esse
vírus: o FMI. A grande vantagem é que ele fica com
as culpas. Os cidadãos aceitam a austeridade e não
acusam o Governo, deixando incólumes os políticos
locais.
O diagnóstico está feito, a terapêutica preparada, o
remédio seleccionado. Só falta cumprir a prescrição.