Na passada quarta-feira, o CDS-PP propôs no
Parlamento a criação de exames nacionais no 4.º e no
6.º anos. Paulo Portas justificou os exames com a
necessidade de impor uma "ética do esforço" aos
alunos. A deputada Paula Barros, pelo PS, contestou
os exames, considerando a proposta do CDS-PP
"discriminatória" e reveladora de "profunda
insensibilidade social".
Este caso ilustra bem as posições típicas de
conservadores e progressistas sobre educação.
Nenhuma das facções reconhece a autonomia dos pais
para educarem os filhos. Ambas acreditam que o
Estado é que deve ser o grande educador. Os
conservadores, representados pelo CDS-PP, acreditam
que o Estado deve educar de acordo com os valores
tradicionais. Moral católica, trabalho, família,
Pátria, rigor e esforço. Os progressistas,
representados pelo PS, estão mais interessados na
igualdade do que na educação. Acreditam que se a
escola ensinar alguma coisa torna-se
discriminatória, porque os bons alunos aprenderão
mais do que os maus. A forma mais segura de impedir
a discriminação é garantindo que as escolas não
ensinem nada.
Quem tem razão? Conservadores ou progressistas? O
ensino conservador parece demasiado tradicionalista
para entusiasmar alunos e professores e o
progressista demasiado experimental para ser
credível. Dado que os senhores deputados não
conseguem ir além do senso comum, o mais provável é
que o conhecimento para escolher entre a via
conservadora e a via progressista não se encontre no
Parlamento, mas disperso pela sociedade. É mesmo
possível que a resposta dependa do aluno, das suas
condições familiares e da cultura de cada escola.
Existe uma solução que poderá contentar tanto os
conservadores como os progressistas e que, como
bónus, ainda consegue aproveitar o conhecimento
disperso pela sociedade: a liberdade de escolha. Se
as escolas pudessem escolher os seus métodos de
avaliação e seleccionar os seus alunos e se os pais
pudessem escolher a escola dos filhos, os deputados
seriam dispensáveis. Os pais, que estão muito mais
interessados no futuro dos seus filhos que o
Parlamento, teriam liberdade para decidir. Os
defensores do ensino conservador e os do ensino
progressista teriam que abdicar do poder do Estado
para impor as suas teses e teriam que convencer pais
e professores com argumentos fundamentados. Paulo
Portas e Paula Barros teriam que se converter em
gurus das respectivas comunidades educativas. Os
deputados do CDS-PP colocariam os seus filhos em
escolas com exames externos e os do PS colocariam os
seus em escolas sem exames promotoras de igualdade.
Ah, e os maus alunos poderiam ir para as escolas sem
exames onde não correriam o risco de ser
descobertos. Quero dizer, onde não correriam o risco
de ser discriminados.