Juiz norte-americano concede asilo a casal alemão
que quer ensinar os filhos em casa
Susana Almeida Ribeiro
O casal de alemães Uwe e Hannelore Romeike, com
cinco filhos, fugiram para os Estados Unidos no
Verão de 2008. Pouco tempo depois, pediam asilo para
se manterem no país. O motivo: discriminação contra
o facto de quererem ensinar os seus cinco filhos em
casa, na Alemanha natal. Um juiz do Tennessee acabou
por lhes dar razão. É o primeiro caso de asilo por
razões educativas nos EUA.
O juiz Lawrence Burman decretou, num tribunal de
primeira instância, em Memphis, que a família alemã
tem, legitimamente, medo de ser perseguida pelas
suas convicções e, por isso, decretou que os Romeike
poderão viver e trabalhar legalmente nos EUA.
Antes de decidir abandonar a Alemanha, em Agosto de
2008, a família foi multada em milhares de euros,
segundo o Guardian, e as autoridades enviaram
polícias para a porta de casa dos Romeike para
obrigar as crianças a irem à escola. O ensino de
crianças em casa é proibido na Alemanha. A partir
dos seis anos, todos têm que frequentar a escola.
Uwe Romeike, um professor de piano, e a sua mulher,
Hannelore, evangélicos devotos, decidiram retirar os
seus filhos da escola estatal em que estavam
inscritos em Bissingen (Sudoeste da Alemanha), em
2006, alegando que o currículo era anticristão. De
acordo com o casal, os manuais escolares dos seus
filhos apresentavam ideias e linguagem que entravam
em conflito com a sua religião, incluindo termos em
calão para definir actos sexuais e imagens de
vampiros e bruxas. Quando o filho mais velho começou
a andar à pancada com os colegas e a filha mais
velha começou a ter dificuldades em estudar, os
Romeike decidiram que já bastava. Tiraram-nos da
escola pública e deram início à escola caseira.
"É importante os pais terem a liberdade de poder
escolher a forma como os seus filhos são ensinados",
indicou Hannelore Romeike à AP. "Nos últimos 10 a 20
anos, o currículo educativo nas escolas públicas tem
sido cada vez mais contrário aos valores cristãos",
acrescentou Hannelore.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão já fez
saber que adia um comunicado acerca do caso Romeike
para quando a decisão judicial americana for tornada
oficial.
Em Portugal, é possível ensinar os filhos a partir
de casa e estima-se que haja actualmente várias
dezenas de crianças e jovens a estudar em regime de
ensino doméstico.