Público - 31 Jan 2010

 

Juiz norte-americano concede asilo a casal alemão que quer ensinar os filhos em casa
Susana Almeida Ribeiro

O casal de alemães Uwe e Hannelore Romeike, com cinco filhos, fugiram para os Estados Unidos no Verão de 2008. Pouco tempo depois, pediam asilo para se manterem no país. O motivo: discriminação contra o facto de quererem ensinar os seus cinco filhos em casa, na Alemanha natal. Um juiz do Tennessee acabou por lhes dar razão. É o primeiro caso de asilo por razões educativas nos EUA.

O juiz Lawrence Burman decretou, num tribunal de primeira instância, em Memphis, que a família alemã tem, legitimamente, medo de ser perseguida pelas suas convicções e, por isso, decretou que os Romeike poderão viver e trabalhar legalmente nos EUA.

Antes de decidir abandonar a Alemanha, em Agosto de 2008, a família foi multada em milhares de euros, segundo o Guardian, e as autoridades enviaram polícias para a porta de casa dos Romeike para obrigar as crianças a irem à escola. O ensino de crianças em casa é proibido na Alemanha. A partir dos seis anos, todos têm que frequentar a escola.

Uwe Romeike, um professor de piano, e a sua mulher, Hannelore, evangélicos devotos, decidiram retirar os seus filhos da escola estatal em que estavam inscritos em Bissingen (Sudoeste da Alemanha), em 2006, alegando que o currículo era anticristão. De acordo com o casal, os manuais escolares dos seus filhos apresentavam ideias e linguagem que entravam em conflito com a sua religião, incluindo termos em calão para definir actos sexuais e imagens de vampiros e bruxas. Quando o filho mais velho começou a andar à pancada com os colegas e a filha mais velha começou a ter dificuldades em estudar, os Romeike decidiram que já bastava. Tiraram-nos da escola pública e deram início à escola caseira.

"É importante os pais terem a liberdade de poder escolher a forma como os seus filhos são ensinados", indicou Hannelore Romeike à AP. "Nos últimos 10 a 20 anos, o currículo educativo nas escolas públicas tem sido cada vez mais contrário aos valores cristãos", acrescentou Hannelore.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão já fez saber que adia um comunicado acerca do caso Romeike para quando a decisão judicial americana for tornada oficial.

Em Portugal, é possível ensinar os filhos a partir de casa e estima-se que haja actualmente várias dezenas de crianças e jovens a estudar em regime de ensino doméstico.