Lusa - 28 Jan 2010

 

Crianças: Pode pôr o meu filho perfeito, que eu não tenho tempo?
Sandra Moutinho

Os psicólogos tratam cada vez mais pais "completamente desorientados", para quem educar uma criança com um ou dois anos é missão impossível. Procuram no consultório o filho perfeito e um antídoto contra o remorso pela falta de tempo para ele.

Alguns destes pais já passaram pelo consultório de Maria Jesús Alava Reys, psicóloga espanhola que lança agora em Portugal o livro "O não também ajuda a crescer" e que, a esse propósito, partilhou com a agência Lusa alguns dos casos que tem trabalhado e que revelam um grande sofrimento de pais e filhos.

"Educar não é fácil. Apesar de hoje em dia os pais estarem seguramente mais preocupados com a educação dos filhos, coincidem vários aspectos sociais mais difíceis, como a ausência de irmãos em muitas famílias e a falta de tempo", disse a especialista, autora de vários livros campeões de venda sobre comportamento.

Se os filhos precisam de pais presentes, os pais precisam de tempo para serem pais. Ambos não encontram o que necessitam e acabam, muitas vezes, nos consultórios dos psicólogos.

"Os consultórios dos psicólogos estão cheios de educadores deprimidos e pais perdidos que desistiram e que procuram, com bastante cepticismo, algo que lhes permita encontrar um pouco de luz entre tanta escuridão", lê-se na obra de Maria Jesús Alava Reys.

A especialista reconhece, contudo, "erros gravíssimos" que estes profissionais têm cometido e que estão hoje a ter repercussões muito sérias.

Os pais que seguiram a orientação defendida há anos de que era melhor deixar as crianças fazerem tudo, pois podiam ficar traumatizadas, estão hoje a pagar por isso.

"Nós, psicólogos, já pedimos perdão por isso", afirmou, lembrando que os piores casos que tem acompanhado - e vê cerca de 500 crianças por ano – são precisamente de filhos manipuladores e tiranos que assim agem porque os pais não são consequentes.

Ao pais o seu papel e, para esta especialista, ele não passa por serem amigos dos filhos.

"Os pais não têm de ser amigos dos filhos. Este é um dos principais horrores que se cometem na educação. Amigos há muitos, mas só temos dois pais e a criança precisa que o pai actue, não como um amigo, mas como um pai", disse.

Se um pai actuar como amigo, sublinhou, o filho não o respeitará e mais tarde poderá acusar o educador de ter falhado neste papel.

Esta psicóloga defende, por isso, mão firme na educação dos filhos, com muitas gargalhadas à mistura. Preconiza, essencialmente, tempo de pais.

"Não se trata de ser escravos dos filhos, pois isso resultaria em filhos manipuladores. Não é acudir sempre que ele chama, pois ele tem de saber esperar. É estar com eles, nem que seja meia-hora e, principalmente, estar presente para quando eles necessitarem de falar e ser ouvidos", disse.

E acrescentou: "As crianças hoje têm mais coisas, mais brinquedos, mas menos tempo dos pais, são mais infelizes e chegam ao ponto de dizer nas consultas que se sentem terrivelmente sós".

O mau comportamento é, muitas vezes, a solução encontrada por estas crianças, para terem a atenção da família.

Por seu lado, os pais assumem que não conseguem educar uma criança com um ou dois anos, sofrendo com tarefas como dar de comer ou pôr a dormir o filho.

"Os pais devem desfrutar da sua paternidade e saber fazer o que têm de fazer. Nós, com a nossa experiência, orientamo-los nesse sentido", explicou.

A especialista deixa uma única "dica": "A insegurança transmite-se. A felicidade também".