A “excessiva ausência” do PSD e CDS é criticada por
Marcelo. Marques Mendes discorda mas vai entrar mais
na campanha
Criticado por alguns sociais-democratas pela forma
neutral como decidiu gerir a participação do PSD no
referendo do aborto, Marques Mendes vai reforçar,
enquanto cidadão, a sua prestação na campanha.
O líder social-democrata garante que nada mudou e
que há muito tinha definido as suas intervenções
neste processo. Certo é que este fim-de-semana
publicará um artigo num jornal a reafirmar a sua
defesa do ‘Não’ e já aceitou participar em debates,
nomeadamente em escolas.
Hoje, no Centro Cultural de Belém, Mendes abrirá o
colóquio nacional organizado pelo seu partido (e
onde se confrontam argumentos nos dois sentidos)
apenas com um discurso de boas-vindas, já que,
enquanto líder do PSD, não se quer envolver. O líder
social-democrata acredita nas vantagens de afastar
os partidos deste processo e entende que em questões
de consciência só se ganha deixando prevalecer a
sociedade civil.
O extremo cuidado de Marques Mendes na defesa da
neutralidade do partido está, no entanto, a suscitar
críticas dentro do PSD. Manuela Ferreira Leite foi a
primeira a manifestar desagrado - “quem tem
convicções defende-as, ou não as tem” afirmou na
Renascença, onde defendeu que todos os militantes e
simpatizantes do PSD “deviam militar pelas suas
ideias”. E Marcelo Rebelo de Sousa vai na mesma
linha.
Preocupado com o que chama “grande ausência” dos
partidos de centro-direita em defesa do ‘Não’,
Marcelo teme as consequências deste fraco
envolvimento do PSD e do CDS. E recorda como estes
partidos tiveram um papel vital para congregar as
posições contrárias à despenalização do aborto no
referendo de 1998, quando ele liderava o PSD.
Neste sentido, Marcelo prepara-se para entrar em
cena já para a semana com uma iniciativa com jovens
que tentará marcar pontos durante a campanha.
“Irrita-me o debate estar enviesado e como na
sociedade portuguesa quem manda são os partidos, o
facto de, do lado do ‘Não’, os partidos estarem
muito ausentes faz toda a diferença”, afirmou o
professor ao Expresso, lamentando que a ausência de
personalidades com influência deste lado da
barricada “não tenha sido suprida por ninguém”.
Crítica a Mendes? Marcelo diz que não. Mas recorda
que, em 98, ele optou por um modelo diferente -
destacou Leonor Beleza e outros dirigentes para se
articularem com os movimentos do ‘Não’ e deixou
militantes do ‘Sim’ falarem nos tempos de antena do
partido - o que, na sua opinião, foi mobilizador.
Marques Mendes concorda que é vantajoso haver mais
personalidades influentes a dar a cara e diz que
espera que o façam, à semelhança, aliás, do que ele
próprio tenciona fazer. No seu grupo parlamentar,
deputados pelo ‘Não’, como Zita Seabra ou Ribeiro
Cristóvão, criticaram a organização do colóquio de
amanhã por nele não participar nenhum militante do
PSD.