Expresso - 20 Jan 07

 

Marcelo e Mendes em cena pelo ‘Não’
Ângela Silva


A “excessiva ausência” do PSD e CDS é criticada por Marcelo. Marques Mendes discorda mas vai entrar mais na campanha

 

Criticado por alguns sociais-democratas pela forma neutral como decidiu gerir a participação do PSD no referendo do aborto, Marques Mendes vai reforçar, enquanto cidadão, a sua prestação na campanha.

O líder social-democrata garante que nada mudou e que há muito tinha definido as suas intervenções neste processo. Certo é que este fim-de-semana publicará um artigo num jornal a reafirmar a sua defesa do ‘Não’ e já aceitou participar em debates, nomeadamente em escolas.

Hoje, no Centro Cultural de Belém, Mendes abrirá o colóquio nacional organizado pelo seu partido (e onde se confrontam argumentos nos dois sentidos) apenas com um discurso de boas-vindas, já que, enquanto líder do PSD, não se quer envolver. O líder social-democrata acredita nas vantagens de afastar os partidos deste processo e entende que em questões de consciência só se ganha deixando prevalecer a sociedade civil.

O extremo cuidado de Marques Mendes na defesa da neutralidade do partido está, no entanto, a suscitar críticas dentro do PSD. Manuela Ferreira Leite foi a primeira a manifestar desagrado - “quem tem convicções defende-as, ou não as tem” afirmou na Renascença, onde defendeu que todos os militantes e simpatizantes do PSD “deviam militar pelas suas ideias”. E Marcelo Rebelo de Sousa vai na mesma linha.

Preocupado com o que chama “grande ausência” dos partidos de centro-direita em defesa do ‘Não’, Marcelo teme as consequências deste fraco envolvimento do PSD e do CDS. E recorda como estes partidos tiveram um papel vital para congregar as posições contrárias à despenalização do aborto no referendo de 1998, quando ele liderava o PSD.

Neste sentido, Marcelo prepara-se para entrar em cena já para a semana com uma iniciativa com jovens que tentará marcar pontos durante a campanha. “Irrita-me o debate estar enviesado e como na sociedade portuguesa quem manda são os partidos, o facto de, do lado do ‘Não’, os partidos estarem muito ausentes faz toda a diferença”, afirmou o professor ao Expresso, lamentando que a ausência de personalidades com influência deste lado da barricada “não tenha sido suprida por ninguém”.

Crítica a Mendes? Marcelo diz que não. Mas recorda que, em 98, ele optou por um modelo diferente - destacou Leonor Beleza e outros dirigentes para se articularem com os movimentos do ‘Não’ e deixou militantes do ‘Sim’ falarem nos tempos de antena do partido - o que, na sua opinião, foi mobilizador.

Marques Mendes concorda que é vantajoso haver mais personalidades influentes a dar a cara e diz que espera que o façam, à semelhança, aliás, do que ele próprio tenciona fazer. No seu grupo parlamentar, deputados pelo ‘Não’, como Zita Seabra ou Ribeiro Cristóvão, criticaram a organização do colóquio de amanhã por nele não participar nenhum militante do PSD.