O processo do Orçamento de Estado de 2010 parece um
filme sur realista, sequência de acontecimentos
insólitos e incompreensíveis. Vejamos: a 26 de
Janeiro, como lhe competia, o Governo apresentou
esse diploma, que incluía um défice de 9,3% do PIB
em 2009, um dos mais elevados de sempre. A subida de
6,6 pontos percentuais num ano é a maior registada
na nossa história.
Perante isto o Governo, no poder há cinco anos, não
pediu desculpa nem sequer se mostrou muito
envergonhado. Aliás, até se notou um certo orgulho,
dizendo que a situação se devia ao excelente apoio
dado às empresas em crise. O facto de 2009 ter sido
ano eleitoral nem foi mencionado.
Dado que era assim, seriam de esperar medidas duras,
austeridade severa, propostas dolorosas para 2010.
Pelo contrário, o Executivo desdramatizou. Não seria
preciso subir impostos nem descer salários de
funcionários. Tudo se resumiria a ajustes menores
sem nada que se destacasse.
As autoridades europeias, agências de rating e
mercados tremeram e as nossas condições financeiras
pioraram muito. A reputação portuguesa, que
melhorara com a notícia do consenso parlamentar para
aprovar o OE, caiu a pique quando ele surgiu. Isto
mostra que não há má vontade internacional contra
nós, apenas reacção razoável aos dados disponíveis.
O que faz o Governo face à emergência? Cria uma
enorme tempestade política por causa... de uns
trocos para as regiões autónomas!! Bem sei que
estamos em crise, a política é complexa e os tempos
difíceis. Mas assim não nos podemos admirar que não
nos levem a sério.