Diário de Notícias
- 30
Dez 05
Ascensão e queda de um cientista coreano
Filomena Naves
Comissão concluiu ontem que Hwang Woo-suk
falsificou os seus resultados
desespero. Foto de Hwang, na capa de uma
revista, numa rua de Seul
A fraude científica confirmou-se ontem e o herói coreano tombou definitivamente
do seu pedestal. A ascensão e queda de Hwang Woo- -suk no mundo da investigação
biomédica, hoje um meio altamente competitivo, acabou por ser meteórica pouco
mais de ano e meio.
O anúncio feito ontem, pela Universidade de Seul, de que os seus resultados
sobre células estaminais foram falsificados, acabou por ser a machadada final na
imagem do cientista-herói.
A fraude agora comprovada relaciona-se com um artigo publicado em Maio deste
ano, na revista Science, por Hwang Woo-suk, em que ele alegava ter
produzido 11 linhas de células estaminais embrionárias, cada uma delas
compatível com um doente específico.
Se não tivesse havido falsificação, aquele teria sido um passo importante no
sentido da clonagem terapêutica, já que o problema da rejeição no transplante de
tecidos produzidos a partir dessas células parecia estar solucionado.
Sabe-se agora que não é assim. "Descobrimos que Hwang e a sua equipa não possuem
nenhum dado válido para provar que produziram as linhas celulares cujo ADN [a
assinatura genética] seja especificamente de uma determinada pessoa", disse
ontem a comissão da Universidade de Seul que investigou os trabalhos do
cientista. "Os testes de ADN mostram que não existiam essas células estaminais
específicas", acrescentou o porta-voz da comissão, Roh Jung-Hye.
A mesma comissão tinha adiantado na semana passada que nove das 11 linhas
celulares estavam falsificadas. Ontem disse que era assim para todas. Segundo os
investigadores, Hwang manipulou as fotografias e os dados.
O primeiro escândalo envolvendo o cientista rebentou no final de Novembro,
quando ele confessou ter infringido normas éticas e legais do seu país, por ter
utilizado na seu trabalho óvulos de duas das suas colaboradoras.
Hwang demitiu-se nessa altura do seu cargo de director do banco de células
estaminais da Coreia do Sul, que havia sido criado um mês antes. Em meados deste
mês, um colaborador acusou-o de fraude. Ele defendeu-se, mas a comissão de
inquérito concluiu ontem contra ele.
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