Público - 10 Dez 05

Cuide do Português, sra. ministra!

Aldina Silveira Lobo

 

Ultimamente tenho feito algumas leituras sobre o impacto da avaliação externa no processo de ensino e aprendizagem. Não sei a que estudos se refere o sr. presidente da Associação de Professores de Português (APP) - aludidos em artigo do PÚBLICO do passado dia 7 -, creio desconhecê-los, por isso, tratando-se do exame em causa, gostava que facilitasse as referências de que dispõe.
Porém, sei que a comunidade científica internacional tem mostrado que a avaliação externa dos alunos tem impacto no processo de ensino e aprendizagem (salvo em casos raríssimos). Tem mostrado que esse impacto tanto pode ser positivo como negativo; tudo depende da contextualização criada. Há casos como o do Texas, que, apesar de apresentar resultados progressivamente mais elevados, não melhora as aprendizagens, aprofundando ainda mais o gap entre alunos bons e fracos. E outros, como o de Chicago, que resultam bem, sem efeitos perversos. A investigação tem mostrado que quando os exames são bem feitos e alinhados com o currículo o impacto é benéfico. Em Hong Kong, por ex., chega-se mesmo a alterar os exames com o objectivo explícito de modificar as práticas.
Numa cultura de exigência que os governantes dizem querer imprimir, em Portugal, o que é preciso é melhorar a qualidade das questões das provas e diversificar a sua tipologia. Não foi por causa dos exames de 12.º ano que a maioria dos nossos alunos começou a fazer resumos? O que é preciso é criar condições para que todos possam ir a exame. O que é preciso é aproveitar os professores que estão nas escolas secundárias e ajudar os alunos mais fracos a terem sucesso, em vez de irem entreter os meninos do 1.º ciclo.
Por isso, peço-lhe sra. ministra, não recue no esforço que se tem vindo a fazer desde 1998, deixando os níveis de sucesso entregues a cada escola. Não desiluda os professores que têm trabalhado para incutir nos alunos o sentido da importância e necessidade de se ser exigente na aprendizagem do Português. Não agrave o nível de domínio de língua com que os alunos chegam às universidades ou aos empregos; ajude-nos antes a melhorá-lo!
Para já, e até novas leituras com evidências credíveis, lamento profundamente a posição da APP (da qual sou sócia), que devia pugnar pela defesa da qualidade da língua e literatura portuguesas para todos - é esta também uma questão de equidade! Professora, Lisboa

P.S. - Estou solidária com a opinião dos colegas de Filosofia expressa no mesmo artigo.

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