A taxa que realmente interessa já começou a
subir
A Euribor, taxa relevante para as prestações
da casa, já aumentou. Portugal é dos países
europeus mais vulneráveis à subida
O Banco Central Europeu (BCE)
aumentou ontem as taxas de juro na zona euro. Ou
melhor: o banco aumentou a sua taxa para
operações principais de refinanciamento, que
regula as suas operações de compra e venda de
activos. Esta é a "taxa directora" do BCE, que
afecta todas as outras. Mas a taxa que realmente
interessa aos particulares é a Euribor (Euro
Interbank Offer Rate) - grosso modo, a taxa de
juro a que os bancos emprestam dinheiro uns aos
outros.
A taxa usada para calcular as prestações dos
empréstimos à habitação é a Euribor. Quando a
Euribor sobe, a sua prestação também sobe. E,
mesmo antes da decisão do BCE, a Euribor já
começou a subir.
A Euribor varia de acordo com a taxa directora
do BCE - o que significa que nos últimos anos
não sofreu grandes mudanças. Mas, perante a
quase certeza de que o banco iria subir a sua
taxa de referência, a Euribor a seis meses (a
taxa pode ter vários prazos - seis meses é o
mais frequentemente usado no crédito à
habitação) atingiu o valor médio mensal de 2,52
por cento em Novembro, o mais alto desde
Fevereiro de 2003.
Ou seja, as expectativas de uma subida da taxa
directora já forçaram uma subida da Euribor. Os
actuais níveis da Euribor, aliás, já incorporam
parcialmente a perspectiva de o BCE voltar a
aumentar as taxas de juro em mais 0,25 pontos
percentuais no primeiro trimestre de 2006.
Qual é a relação disto com as prestações da
casa? Na quase totalidade do crédito à habitação
em Portugal, os empréstimos são de taxa
variável, indexados à Euribor. É ela a "base" da
taxa de juro; a ela acresce um spread - uma
margem adicional que representa,
aproximadamente, o lucro do banco; a ela
acrescem ainda outros encargos (por exemplo,
seguros obrigatórios).
Quando sobe a Euribor, sobe a prestação. O
impacte do aumento depende de vários factores -
do tipo de arredondamento que o seu banco usa
para a taxa (o arredondamento é sempre feito por
cima), do tipo de encargos adicionais que o
empréstimo implica.
Até onde vai a Euribor?
E quanto mais é que a prestação vai subir nos
próximos tempos? Isso depende de quanto é que o
BCE fará a sua taxa de referência subir ao longo
de 2006. Alguns analistas auguram apenas mais um
aumento de 0,25 pontos percentuais, outros
esperam subidas adicionais até aos 0,75 antes do
fim de 2006.
O certo é que Portugal é dos países da zona euro
mais vulneráveis à subida das taxas. Por dois
motivos: porque muitas famílias vivem em casa
próprias, que compraram com financiamento da
banca; e porque o crédito à habitação em
Portugal está praticamente todo vinculado à
Euribor. Em 2003, 64 por cento das famílias
portuguesas viviam em casa própria, segundo
números do Eurostat; um número praticamente
igual ao da média europeia, e bastante inferior
ao da vizinha Espanha.
Mas 97,5 por cento do crédito à habitação em
Portugal em 2003 fora contratado a uma taxa
variável; este valor é muito superior ao que se
regista, por exemplo, em França (20 por cento)
ou na Alemanha (10 por cento).
O que significa que, quando o BCE aumenta as
suas taxas de juro, Portugal é dos países
europeus onde mais famílias são afectadas. Na
Holanda, por exemplo, só 6,5 por cento das
famílias contratou empréstimo a taxa variável -
os holandeses sentirão a subida das taxas apenas
de forma indirecta. P.R.