Público - 02 Dez 05

A taxa que realmente interessa já começou a subir

A Euribor, taxa relevante para as prestações da casa, já aumentou. Portugal é dos países europeus mais vulneráveis à subida

O Banco Central Europeu (BCE) aumentou ontem as taxas de juro na zona euro. Ou melhor: o banco aumentou a sua taxa para operações principais de refinanciamento, que regula as suas operações de compra e venda de activos. Esta é a "taxa directora" do BCE, que afecta todas as outras. Mas a taxa que realmente interessa aos particulares é a Euribor (Euro Interbank Offer Rate) - grosso modo, a taxa de juro a que os bancos emprestam dinheiro uns aos outros.
A taxa usada para calcular as prestações dos empréstimos à habitação é a Euribor. Quando a Euribor sobe, a sua prestação também sobe. E, mesmo antes da decisão do BCE, a Euribor já começou a subir.
A Euribor varia de acordo com a taxa directora do BCE - o que significa que nos últimos anos não sofreu grandes mudanças. Mas, perante a quase certeza de que o banco iria subir a sua taxa de referência, a Euribor a seis meses (a taxa pode ter vários prazos - seis meses é o mais frequentemente usado no crédito à habitação) atingiu o valor médio mensal de 2,52 por cento em Novembro, o mais alto desde Fevereiro de 2003.
Ou seja, as expectativas de uma subida da taxa directora já forçaram uma subida da Euribor. Os actuais níveis da Euribor, aliás, já incorporam parcialmente a perspectiva de o BCE voltar a aumentar as taxas de juro em mais 0,25 pontos percentuais no primeiro trimestre de 2006.
Qual é a relação disto com as prestações da casa? Na quase totalidade do crédito à habitação em Portugal, os empréstimos são de taxa variável, indexados à Euribor. É ela a "base" da taxa de juro; a ela acresce um spread - uma margem adicional que representa, aproximadamente, o lucro do banco; a ela acrescem ainda outros encargos (por exemplo, seguros obrigatórios).
Quando sobe a Euribor, sobe a prestação. O impacte do aumento depende de vários factores - do tipo de arredondamento que o seu banco usa para a taxa (o arredondamento é sempre feito por cima), do tipo de encargos adicionais que o empréstimo implica.

Até onde vai a Euribor?
E quanto mais é que a prestação vai subir nos próximos tempos? Isso depende de quanto é que o BCE fará a sua taxa de referência subir ao longo de 2006. Alguns analistas auguram apenas mais um aumento de 0,25 pontos percentuais, outros esperam subidas adicionais até aos 0,75 antes do fim de 2006.
O certo é que Portugal é dos países da zona euro mais vulneráveis à subida das taxas. Por dois motivos: porque muitas famílias vivem em casa próprias, que compraram com financiamento da banca; e porque o crédito à habitação em Portugal está praticamente todo vinculado à Euribor. Em 2003, 64 por cento das famílias portuguesas viviam em casa própria, segundo números do Eurostat; um número praticamente igual ao da média europeia, e bastante inferior ao da vizinha Espanha.
Mas 97,5 por cento do crédito à habitação em Portugal em 2003 fora contratado a uma taxa variável; este valor é muito superior ao que se regista, por exemplo, em França (20 por cento) ou na Alemanha (10 por cento).
O que significa que, quando o BCE aumenta as suas taxas de juro, Portugal é dos países europeus onde mais famílias são afectadas. Na Holanda, por exemplo, só 6,5 por cento das famílias contratou empréstimo a taxa variável - os holandeses sentirão a subida das taxas apenas de forma indirecta. P.R.

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